sábado, 1 de setembro de 2012

PENSEI QUE MUDANDO DE CIDADE O PROBLEMA ACABARIA...



A famosa ''mudança geográfica''... 
Pensei que por morarmos em uma cidade grande, com muitas favelas e violência ele estaria a salvo se nos mudássemos para uma cidadezinha do interior.
No começo ele até que melhorou bastante, mas infelizmente nos mudamos para um bairro onde o povo adorava uma ''cervejinha'', e confesso que até eu,que hoje não bebo nada alcoólico devido a tantos traumas causados pela adicção de meu familiar, andei exagerando na bebida naquela época.
Lembro-me que fazíamos churrascos quase todos os dias, e na cabeça da galera churrasco era sinônimo de ''cerveja''.
Depois de tantas recaídas,perdas materiais e instabilidade, o único serviço que meu familiar conseguiu se adaptar foi o de ajudante de pedreiro. Me lembro que ele acordava cedo todos os dias e ia trabalhar de bicicleta.
Passamos por 
momentos difíceis naquela época,antes de nos mudarmos, meu adicto teve que vender nossa geladeira para pagar dívidas de drogas. 
Recomeçamos praticamente do zero, e recordo-me que em pouco tempo obtivemos algumas melhoras,pois apesar das limitações da doença ele sempre foi muito esforçado e nunca deixou de trabalhar.
Mobiliamos a casa novamente, e assim fomos nos reerguendo aos poucos.
A paz durou pouco, coisa de meses. 
Recordo-me que sempre que meu adicto voltava do trabalho ele parava no bar para beber umas cervejas, segundo ele,''Para relaxar um pouco''...
Eu nunca achei nada demais meu adicto tomar algumas cervejas antes de conhecer a doença, até mesmo porque até então, ele nunca havia tido problemas com o álcool.
Eu, inexperiente e totalmente leiga sobre o assunto ''adicção'', não imaginava o mal que o álcool fazia na vida de um dependente químico. Fui descobrir isso depois de muito tempo e varias recaídas...
Este é um erro muito comum cometido pela maioria de familiares de adictos, o desconhecimento da doença.
Ele começou a ter recaídas com frequência, e como ele ganhava pouco e eu estava desempregada, as contas da casa e os aluguéis foram atrasando consequentemente. 
Fiquei muito envergonhada quando a imobiliária ligou para nosso fiador pedindo a casa por causa dos atrasos de pagamentos dos aluguéis.
Nós não tínhamos dinheiro nem para pagar os aluguéis quanto mais as multas por atraso cobradas pela imobiliária. 
Não tinha mais cara para olhar para nosso fiador que era nosso amigo e acabou perdoando a dívida por pena de nossa situação.
Arrumamos outra casa mais em conta, no mesmo bairro, mas meu familiar não melhorava, a doença somente progredia cada vez mais.
Ele já estava pele e osso e vivia na ativa fazendo o uso da droga praticamente todos os finais de semana.
Estávamos passando por muitas dificuldades, mas sempre estive ao seu lado em todos os momentos, por mais difíceis que fossem estes momentos.
Recordo-me de um fato que ocorreu naquela época, que talvez eu nunca vá esquecer; estávamos sem alimento em casa, e ele tinha mil reais para receber, tínhamos feito vários planos com este dinheiro, principalmente de fazer uma boa compra para casa.
Não me lembro como, mas ele conseguiu me convencer que iria sozinho ao banco receber o dinheiro pois só tinha dinheiro para uma passagem, e desta forma voltaria mais rápido para irmos ao supermercado.
Esperei durante horas, e nada dele voltar.
Na realidade esperei por exatos 4 dias, imaginem o meu desespero...
No começo fiquei com muita raiva, mas com o passar do tempo, aquela raiva se transformou em medo e preocupação. Até me Esqueci do dinheiro, estava com medo de atender a porta e receber uma má noticia. Foram os piores 4 dias de minha vida, pois naquela época ele nunca havia sumido por tanto tempo. Eu já estava me preparando para o pior.
Fui com minha filha ao hospital, delegacia, IML, e nem sinal dele...
Muito triste passar por esta angustia.
Foi a primeira vez que tive coragem de pedir ajuda á minha família, reconheci que sozinha, eu não conseguiria.
Conversei com meu pai pela primeira vez sobre a doença de meu adicto, e ao contrario do que imaginei, ele ficou ao meu lado e disse que iria me ajudar. Tentou me acalmar dizendo que logo ele apareceria, que quando ele chegasse iriamos interna-lo e que tudo ficaria bem.
Tinha muito receio de falar sobre este assunto com meu pai, pois ele sempre foi muito preconceituoso com pessoas que usavam drogas, na realidade ele não entendia nada sobre a doença, e achava que todo adicto era ''sem caráter'' e não parava com o vício por falta de vergonha na cara. 
Decidimos conversar com uma prima que conhecia uma comunidade terapêutica e podia nos ajudar a interna-lo quando ele voltasse. 
Estava muito angustiada, estava a quatro dias praticamente sem dormir e me alimentar, mal conseguia cuidar de minha filha.
De repente bateram em meu portão, o coração quase saiu pela boca; sensação de medo, desespero...
Lembro-me que pareceu uma eternidade até eu chegar á porta. Estava apavorada com medo de uma má notícia.
Quando fui atender, era uma prima minha dizendo que tinha boas notícias...
Me disse que a filha dela que estava voltando da escola havia visto meu adicto bebendo em um bar que ficava em um bairro próximo de casa.
Fiquei tão feliz e aliviada, que deixei ela falando sozinha e pedi para uma vizinha olhar minha filha que eu iria busca-lo.
Ainda estava sem acreditar que pudesse ser ele, mas quando cheguei no bar, ele estava lá, e quando me avistou levou um susto, imaginou que eu iria brigar, fazer escândalo, mas eu estava tão feliz por encontra-lo com vida que minha única reação foi abraça-lo e traze-lo para casa.

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