segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

VICÍADAS EM VICÍADOS



Companheiras de dependentes químicos podem apresentar transtornos semelhantes às doenças de seus parceiros

Adriana, 35 anos, Fábia, 15, Romina, 33, Angélica, 29 estão em tratamento por causa da dependência química sem jamais terem tido algum problema pessoal com bebida alcoólica ou com qualquer outro tipo de droga.
Para que experimentem os dissabores de seus “vícios”, basta assistirem a seus maridos ou namorados exagerarem no álcool, sumirem dias para consumir crack e cocaína ou voltarem para casa maltrapilhos após horas e horas passadas no bar.
Na posição de espectadoras da dependência, estas mulheres, moças e senhoras, percebem que são prisioneiras de um transtorno tão exigente e avassalador como a doença de seus parceiros.
Na literatura especializada e nos consultórios clínicos, o comportamento delas é chamada de “codependência”, transtorno majoritariamente feminino que é despertado – em sua maioria – nas relações afetuosas com dependentes químicos.

Máscaras

“Ora a gente acha que é super-heroína, ora que é vítima da situação. Vamos desempenhando esta troca de papéis e, quando nos damos conta, se é que um dia nos damos conta, já não temos vida própria. Somos movidas a nos dedicar ao outro e, por um momento, gostamos disso”, afirma Romina Miranda Cerchiaro, em recuperação da sua codependência há sete anos.
Depois de pedir a separação do companheiro que tinha problemas com o álcool, Romina desconfiou de que apresentava sinais clássicos de dependência daquela situação que tanto dizia “não aguentar mais”.
“Percebi que se não procurasse ajuda iria continuar com o mesmo comportamento destrutivo, repetindo os mesmos erros, ainda que em outro relacionamento”, conta ela, que é jornalista, escritora e tornou-se pesquisadora da área de codependência.
A conscientização de sua situação fez com que Romina procurasse ajuda especializada e também tivesse vontade de ajudar outras mulheres que viviam dramas como o seu de forma anônima. Hoje, ela organiza grupos de autoajuda em todo o Brasil.
Delas acompanhou uma destas reuniões, em uma noite chuvosa na capital paulista. No encontro, todas as outras participantes pediram sigilo sobre seu nome e sobrenome. Não era apenas a vergonha que motivava a insistência pelo anonimato. É que o processo para assumir a codependência é tão complexo como o enfrentado para admitir o vício. Existe, primeiro, a negação.
Romina Cerchiaro reconheceu que era codependente, estudou o assunto hoje ajuda outras mulheres

Não é amor?

Fábia, estudante do primeiro ano do ensino médio da capital paulista, garota de rosto infantil e de cabelos quase até a cintura, era exemplo de toda a complexidade que significa assumir o transtorno da codependência na reunião acompanhada pela reportagem. Aos 15 anos, ela poderia abandonar o primeiro namorado, em recuperação do vício de cocaína, e desfrutar de sua juventude em baladas e viagens para o Guarujá. “Mas eu simplesmente não consigo deixar para trás meu namorado, mesmo já tendo sido humilhada, traída e largada para escanteio tantas vezes”, diz.
Ao mesmo tempo em que admitia ser dependente daquela situação, a menina questionava se o seu comportamento não era “só resultado de seu amor”, dúvida que passa pela cabeça da maioria das companheiras e que serve de justificativa para não procurarem ajuda.
“O que tentamos reforçar em nossos encontros é que o sentimento serve de muleta para o comportamento destrutivo”, explica Romina. Segundo ela, não é raro as mulheres mais experientes, que já passaram por outros relacionamentos, se darem conta de que seus namorados antigos também eram dependentes químicos ou tinham algum outro tipo de compulsão, como vício em sexo ou no trabalho.
“Nosso objetivo não é fazer com que elas abandonem seus companheiros. Mas, sim, com que procurem ajuda para si”, acrescenta Romina.Os especialistas acreditam que a codependência não traz apenas danos às mulheres mas também pode influenciar, negativamente, no processo de recuperação do dependente químico.
“Por isso, é tão importante que o acompanhamento psicológico seja estendido à família do dependente. É só desta forma que o apoio familiar traz efeitos positivos”, afirma Camilla Magalhães, diretora e pesquisadora do Centro de Informações sobre o Álcool (Cisa).“Por vezes, quando esta mulher toma para si o controle da situação, ela pode cobrar resultados, tornar o processo mais angustiante ou ainda minimizar a dependência do seu companheiro, todas consequências perigosas no tratamento de ambos.”

“Tudo na minha vida”

Se para o dependente de álcool uma taça de vinho pode ser encarada como uma forte tentação – e além de um motivo para a recaída – para o comportamento destrutivo da codependência se manifestar, define a administradora de empresa Adriana, 35 anos, é só ouvir a frase “por favor, me ajuda”.
Adriana é mãe de um garoto de 16 anos e, apesar da rotina apertada de mais de 14 horas de trabalho diário, achou espaço para “uma coleção de relacionamentos destrutivos em série com homens compulsivos.” Os favores pedidos pelas pessoas com quem ela se relaciona são suficientes para a administradora largar tudo que está fazendo – emprego, diversão, sono, filho – e tentar ajudar quem solicitou sua ajuda.
Seria apenas uma postura nobre e altruísta se, entre estas solicitações, não estivessem pedidos que agravam não só a dependência do parceiro, como colocam a própria pele destas mulheres em risco, conforme conta a professora do ensino primário, Angélica, 29 anos.
Escutar que são a razão da vida de seus namorados torna mais difícil negar o pedido por dinheiro, mesmo eu sabendo, lá no fundo, que o destino das notas é a cocaína. “É isso que também me faz buscá-lo altas horas da madrugada na boca de fumo, sabendo que eu posso virar a presa do traficante e até morrer. Semana passada, meu coração ficou partido. Fui buscar meu namorado na biqueira (ponto de tráfico) e no caminho encontrei um aluno meu. Eu estava exposta e expus aquela criança. É a minha carreira, sabe? É difícil saber que não consigo pensar em mim".

Violência

Além das súplicas e juras de amor, existe outro “ingrediente” que agrava a situação da codependência: a violência. Uma pesquisa realizada no ano passado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) entrevistou 7 mil famílias de 108 cidades brasileiras e atestou que em quase metade (49,7%) dos núcleos familiares que vivenciaram agressões domésticas, o agressor estava embriagado.
Mas no caso dos dependentes químicos, daqueles que bebem de forma sistemática, existe uma situação pouco abordada. “Na maioria das vezes, é a ausência do álcool (ou de outra droga) que faz a violência se manifestar”, afirma a pesquisadora do Cisa, Camilla Magalhães.
“Oferecer a bebida ao parceiro pode significar trazer de volta a paz para casa. Já acompanhei várias companheiras de dependentes que declararam que o marido ou namorado fica mais romântico e bonzinho quando bebe (ou usa outra droga). Tudo isso pode interferir, ainda que de forma inconsciente, na relação dela com a abstinência dele.”
Tentando ser heroínas, elas podem acabar vilãs.

Os especialistas já estudaram a codependênica. A maior parte das portadoras, no entanto, só procura ajuda para o parceiro

Esta dificuldade em estabelecer limites, em se colocar em primeiro plano, em enxergar as próprias fraquezas escondidas na doença de seus amores faz com que as codependentes fiquem à margem de ajuda especializada, pesquisas e foco de atenção da família e dos amigos.Os grupos de autoajuda acabam como único abrigo e um deles, os Codependentes Anônimos do Brasil (Coda), tem como lema o “só por hoje", tão salvador e utilizado na recuperação de alcoolistas e narcóticos. Nas reuniões anônimas dos codependentes, eles repetem ao final de cada encontro a frase: Só por hoje, eu sou a pessoa mais importante da minha vida”.Romina Cerchiaro assimilou essa filosofia de vida que em nada tem relação com egoísmo. O desafio agora é encarar o frio na barriga, tão comum em cada nova paixão, como uma sensação natural. A paixão não precisa ser doença.

                                    Como identificar

As perguntas a seguir servem para identificar possíveis padrões de codependência, definidos pelo Coda. Se você apresenta pelo menos dois deles, procure ajuda para conversar sobre isso.
  • Você se sente responsável por outra pessoa? Pelos sentimentos, pensamentos, necessidades, ações, escolhas, vontades, bem-estar e destino dela?
  • Você sente ansiedade, pena e culpa quando outras pessoas têm problemas?
  • Você se flagra constantemente dizendo "sim" quando quer dizer "não"?
  • Você vive tentando agradar os outros em vez de agradar a si?
  • Você vive tentando provar aos outros que é bom o suficiente? Você tem medo de errar?
  • Você vive buscando desesperadamente amor e aprovação? Você se sente inadequado?
  • Você tolera abuso para não perder o amor de outras pessoas?
  • Você sente vergonha da sua própria vida?
  • Você tem a tendência de repetir relacionamentos destrutivos?
  • Você se sente aprisionado em um relacionamento? Você tem medo de ficar só?
  • Você tem medo de expressar suas emoções de maneira aberta, honesta e apropriada?
  • Você acredita que se assim o fizer ninguém vai amá-lo?
  • O que você sente sobre mudar o seu comportamento? O que impede-lhe de mudar?
  • Você ignora os seus problemas ou finge que as circunstâncias não são tão ruins?
  • Você vive ajudando as pessoas a viverem? Acredita que elas não sabem viver sem você?
  • Tenta controlar eventos, situações e pessoas por meio de culpa, coação, ameaça, manipulação e conselhos, assegurando assim que as coisas aconteçam da maneira que você acha correta?
  • Você procura manter-se ocupado para não entrar em contato com a realidade?
  • Você sente que precisa fazer alguma coisa para sentir-se aceito e amado pelos outros?
  • Você tem dificuldade de identificar o que sente? Tem medo de entrar em contato com seus sentimentos como raiva, solidão e vergonha
Onde procurar ajuda
Naranom

UM TEMPO PARA MIM...



Olá meus queridos amigos!!!!
Vou contar a vocês como andam por aqui.
Bem, quem acompanha meu blog, sabe que eu também tenho uma irmã que também é adicta.
Pois é, ela foi internada em dezembro em um hospital psiquiátrico e faz uns quatro dias que ela pulou o muro e fugiu de lá. Lamentável. 
Fiquei indignada com a atitude da clínica, que é até uma clínica renomada: o INSTITUTO AMÉRICO BAIRRAL, de não ter ligado ao menos para dar uma satisfação para minha mãe sobre o fato ocorrido. É muita falta de profissionalismo e irresponsabilidade.
Esta maldição esta se tornando uma praga mundial e destruindo famílias, não importando classe social, raça ou religião, infelizmente está virando uma epidemia.
Cada vez mais, crianças se viciam nesta droga (crack), que por ser barata, acaba se tornando de fácil acesso.
De um tempo pra cá, muitas coisas mudaram em minha vida, uma delas é que finalmente depois de muitos anos, meu familiar adicto está trabalhando sozinho, quem lê meu blog sabe que sempre trabalhamos juntos, e eu estava muito cansada daquela vida.
Bom não é segredo para ninguém, que meu familiar adicto não se encontra em recuperação, e anda bebendo praticamente todos os dias, já tem um bom tempo que ele mantem este ''estilo'' de vida.
Segundo a ''cabecinha'' do ser , a bebida ajuda ele a não ter recaída na droga de sua preferencia que é o Crack.(é o que ele pensa)
Na realidade nós sabemos que tudo isto são desculpas e manipulações para continuar no uso.
Esporadicamente ele acabava indo procurar pela droga, mas as vezes ele ficava dois ou 3 meses sem o uso do crack, só da droga do Álcool.( bom isto é trocar 6 por meia duzia)
Mas vamos aos fatos, hoje faz uma semana que ele esta trabalhando e por incrível que pareça não esta bebendo.
Desde que ele começou a trabalhar ele parou de beber.
Inclusive sábado fomos jantar em minha mãe e todos estavam tomando cerveja, minha irmã comprou guaraná pra mim, e ele tomou guaraná junto comigo. Achei tão esquisito....
Engraçado como nós nos acostumamos com os comportamentos errados de nossos familiares adictos, quando eles começam a agir certo nós achamos estranho...Tinha que ser exatamente o contrário.
Ele está radiante por estar trabalhando sozinho, isto é uma grande conquista para ele, e eu espero de coração que tudo de certo para ele e que ele finalmente consiga andar sozinho com as próprias pernas.




Quanto a mim estou sentindo uma sensação de liberdade tão boa, estou podendo cuidar de minha casa, tenho mais tempo pra mim, agora só nos vemos de noite, pois ele sai de manha e só chega as 18:00, tenho o dia inteiro livre pra mim, nunca pensei que pudesse me sentir tão bem.
Na realidade a convivência com o Adicto 24hs estava me matando, suas crises, suas intolerâncias, as grosserias, seu egoísmo, tudo tinha que ser do jeito dele, sempre tudo aos berros...Meu Deus eu não suportava mais, acredito que Deus conheça o limite de cada um e o meu estava se esgotando por isso deu este jeitinho para nós... Nem que seja para eu tirar umas férias (acho que eu mereço)...risos...
Não crio expectativas sobre absolutamente nada meus queridos, pois sei bem como viver ao lado de um adicto é uma caixinha de surpresas, mas tenho aprendido a viver e agradecer por cada momento de paz que me é concedido, afinal de contas o importante é o dia de hoje e só por hoje eu estou feliz.
Amo todos vocês incondicionalmente!!!

ABSTINÊNCIA...PODE LEVAR A MORTE?



Uma primeira autópsia no corpo de Amy Winehouse, cantora britânica falecida em julho deste ano, terminou inconclusiva, sem apontar as causas da morte. Mas uma hipótese levantada por parentes é de que ela teria sido vítima de uma crise de abstinência. A falta de drogas, depois de um longo período de excessos, poderia ter contribuído para o falecimento de Amy, que segundo seus familiares, não bebia há três semanas.
“A privação da substância ao dependente químico pode provocar uma série de reações físicas e psicológicas que resultam em grande mal-estar, o que se denomina crise de abstinência”, define o psiquiatra e coordenador do ambulatório de dependência química do Hospital das Clínicas, Valdir Ribeiro Campos.
Assim como o tempo e as chances de sucesso de um tratamento, os sintomas de abstinência variam de acordo com os pacientes e as drogas usadas.
A abstinência alcoólica, por exemplo, caracteriza-se por perda de sono, sintomas depressivos, tremores, náuseas, vômitos e dificuldade de alimentação. Pacientes graves podem apresentar convulsão e sensação de perseguição. “Cerca de 10% dos casos podem evoluir para um caso gravíssimo na medicina e que requer tratamento de urgência – o chamado delirium tremens – caracterizado por confusão mental, alucinações e febre”, alerta o médico. Esses sintomas duram entre uma e duas semanas.





No caso do crack, a abstinência dura cerca de dez semanas. Segundo o coordenador do ambulatório do HC, nos quatro primeiros dias o paciente se sente cansado e desestimulado, come muito e sofre alterações de humor. “Existe grande tendência de o dependente voltar a usar a droga caso a abstinência não seja tratada corretamente. Sem a medicação os sintomas continuam e, comumente, levam a um quadro de depressão, alterações no padrão de sono e desestímulo.” Na décima semana, aponta o médico, esses sintomas começam a desaparecer e o organismo começa a se recuperar.
No caso de drogas como maconha e LSD, a privação da substância resulta em “desestímulo e desinteresse, semelhante a um quadro depressivo”.

Abstinência pode levar à morte?

“Indiretamente sim”, responde Valdir Ribeiro Campos. De acordo com ele, no caso do dependente de crack, caso a abstinência não seja tratada corretamente, o usuário pode entrar em um ciclo que poderá resultar em desnutrição, desidratação, falência cardíaca, infarto agudo do miocárdio, derrame ou acidente vascular cerebral, por exemplo. Em alcoólatras podem acontecer picos hipertensivos, AVC ou convulsões.
“Essas complicações, típicas de abstinências gravíssimas, podem ser causadoras de morte, completa''.
O tratamento de usuários químicos em abstinência baseia-se em três pilares: motivação para largar a droga, desintoxicação – que é o tratamento propriamente dito – e ressocialização.
“Além da parte orgânica do tratamento, feita por meio de medicamentos capazes de diminuir os sintomas e auxiliar o paciente a suportar essas alterações, é muito importante o tratamento psicológico, de abordagem multiprofissional, visando recuperar as diversas áreas da vida afetadas pelo uso de droga”, esclarece Valdir.
Abandonar a droga sem ajuda médica é possível, mas muito difícil. É comum que o usuário não suporte e tenha recaídas, diz o médico. Ele destaca que o papel da família também é muito importante, no sentido de motivar a mudança de comportamento do paciente.

Texto retirado do blog:http://soporhoje2.blogspot.com.br/

Atualizada em 08 de setembro de 2011
Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG
jornalismo@medicina.ufmg.br
Crédito http://www.medicina.ufmg.br/noticias/?p=22469

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Fabio assunção fala sobre seu problema com as drogas em entrevista!!


Olá meus queridos amigos, esta reportagem é antiga mas achei interessante, pois geralmente é difícil um adicto aceitar a doença, a negação é o sintoma característico da adicção, por isso achei muito lindo da parte dele abrir o coração assumir sua doença e no caso dele, mais difícil ainda pois se trata de uma figura pública.
Vale a pena ler pois é emocionante. 

Depois de 10 meses de afastamento da rede globo para fazer tratamentos , ele se sente preparado para falar do problema pela primeira vez.


Patricia Poeta: O que que aconteceu Fabio, porque você se afastou?

Fabio assunção: Olha, eu me afastei porque (silencio)...Eu acho bom falar sobre isso, eu nunca falei sobre isso, não porque eu tenha nada para esconder, mas é porque isso foi uma coisa tão intima né, eu me tornei dependente químico, foi uma coisa que, é muito difícil administrar a dependência química, com qualquer coisa que você faça na vida.
Patricia Poeta: Para gente entender melhor, a quanto tempo você vinha enfrentando o problema do vicio? 
Fabio Assunção: Olha já tinha alguns anos, mas eu acho que nos últimos 3, 4 anos, foi que a coisa começou a ficar mais difícil, mais complicada.
Patricia Poeta: Você tinha dificuldade de trabalhar?
Fabio Assunção: Acho que o problema maior era respeitar meus compromissos, os horários, chegou uma hora que realmente eu fiquei perdido, eu não sabia mais se era terça-feira se era quinta-feira, se era sábado.
Eu tinha medo de marcar um jantar, eu tinha medo de sei lá se tinha uma gravação de manhã, eu já ficava pensando...puta de manhã, será que vai acontecer? Porque este excesso de droga é uma coisa, é muito duro você dizer que não vai mais fazer uma coisa, e você fazer.
Você dizer: Chega! agora não faço mais, agora acabou, vou ficar bem...E dois dias depois você esta fazendo de novo.
Patricia Poeta: Quantas vezes você já tinha começado um tratamento ou fez um tratamento e acabou não funcionando?
Fabio Assunção: Eu tinha feito quando acabou paraíso tropical, eu fui para fora do Brasil, em uma clinica que tem fora do Brasil, fui uma vez, no Arizona , perto de Fênix, e fiquei lá 40 dias ,voltei e as coisas não deram certo, ai eu voltei para lá de novo , para mesma clínica e fiquei dois meses.
Patricia Poeta: E melhorou??
Fabio Assunção: Melhorou, mas eu voltei ai fiquei um tempo bem, e depois as coisas começaram a não ir bem de novo.
Ai eu tomei minha rasteira total, a coisa veio forte pra mim, a coisa me pegou, me pegou mesmo e eu dancei.
Patricia Poeta: E demorou para você aceitar, que sim você tinha um vicio, que você precisava se cuidar, parar para se cuidar?
Fabio Assunção: Demorou, demorou e alias eu acho que este é o primeiro passo para lutar contra isso, você assumir que você tem um problema, e pedir ajuda entendeu.
Patricia Poeta: Você sentia medo também do que as pessoas pudessem achar?
Fabio Assunção: Po totalmente, eu tinha medo de ser julgado, de ser criticado, de até ser visto como uma referencia negativa, eu acho que estes medos todos fazem com que você só aumente seu problema.
Eu acho que ano passado o que aconteceu foi de certa forma maravilhoso, porque quando eu tive a minha doença exposta, eu pude ficar livre, eu falei: agora que todo mundo sabe eu vou assumir isto então e po eu tirei um peso das minhas costas.
Patricia Poeta: Ai você decidiu virar a pagina,quer dizer ai você disse agora vou fazer um tratamento pra valer, vou parar, e como é que foi este tratamento?
Fabio Assunção: Olha, eu acho que este tipo de tratamento é como se você atravessasse o deserto, um momento de solidão assim, é difícil, mas assim nada é mais difícil do que viver com drogas, então qualquer tratamento é mais fácil do que a vida que você estava tendo.
Patricia Poeta: Quanto tempo você ficou lá?
Fabio Assunção: 5 meses, fiquei 4 meses em uma clinica que é uma clinica muito fechada, e depois eu terminei meu tratamento no meu ultimo mês, em uma outra clinica onde eu podia receber visita, eu tenho um filho o João de 6 anos que é um encanto na minha vida, que é uma pessoa que eu não fingi pra ele que nada estava acontecendo, ele via que eu não estava bem, eu disse para ele que eu estava indo para uma clinica para aprender a dormir, acordar e a comer na hora certa, e ele entendeu.
Patricia Poeta:A pergunta que todo mundo se fez é: Porque o Fabio Assunção? Este cara bonito, bem sucedido, famoso, querido por tantas pessoas, acabou sendo atraído por drogas??Você tem esta resposta?
Fabio Assunção:Tenho, eu acho que o espirito da gente, ele não está muito interessado se você tem tudo, se você não tem tudo, se você faz sucesso, eu fui brincar com uma coisa que eu não tinha dimensão do quão perigosa ela é entendeu, é porque eu acho que a gente tem um lado as vezes que é auto destrutivo entendeu, eu me coloquei em risco varias vezes, risco de saúde, risco de vida, risco de ter problemas legais.
Eu me sinto abençoado porque quando estive na clinica, conheci pessoas que tem sequelas, que acabaram se envolvendo em acidentes, coisas que não se pode mais reverter entendeu? Então eu acho que passei por esta tempestade e me sinto muito bem.
Patricia Poeta:Agora neste período de tratamento, como é que ficaram os relacionamentos? Os amigos? se afastaram de você, continuaram do seu lado?O que que aconteceu?
Fabio Assunção:Se sabe que eu tive alguns amigos que foram embora, mas eles, eu não tenho nenhum ressentimento em relação a isso, este movimento só me ensinou o verdadeiro significado da amizade.
Patricia Poeta:Quem deu mais força para você neste desafio de largar o vicio?
Fabio Assunção: Bom a Karina, namorada que eu não tenho nem o que dizer, meus pais que na época da clinica se aproximaram muito de mim.
Patricia Poeta: Você hoje se sente completamente curado?
Fabio Assunção: Não, de jeito nenhum, de jeito nenhum, e não quero me sentir, porque eu acho que este lado da doença eu não posso fingir que isto não existe, este ''diabinho'' eu não posso achar que ele não existe ou...eu tenho que ter um respeito por ele.
Eu estou encantado de como a recuperação é uma coisa genial, eu hoje marcar meus compromissos , e estar lá, isso me dá uma sensação de vitória, de eu to conseguindo.
Patricia Poeta: Em algum momento pintou uma tentação por exemplo de querer voltar atrás?
Fabio Assunção: Não é querer voltar atrás, isso jamais eu peguei um caminho agora que não tem volta para mim, e eu não vou dar mais brecha para que a minha vida volte a ser aquele inferno que era antes.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

DESLIGAMENTO EMOCIONAL


Esta é umas das Ferramentas mais importantes e mais difíceis de entendermos e aplicarmos na nossa Recuperação.
Nos ¨Desligarmos Emocionalmente¨ do nosso Adicto é nos permitir despir de todos os nossos preconceitos, pré-conceitos que fomos anexando ao nosso modo de pensar e viver e que foram se enraizando dentro de nós.
Desligarmos é nos permitir ter limites, é permitir termos liberdade, termos direito, sermos felizes, pois, agora temos opções, temos escolhas e não mais obrigações somente.
É compreendermos, é termos compaixão, é sabermos que a nossa felicidade agora não depende de terceiros, do bem-estar do Adicto, do bem-estar do patrão, do vizinho. Esta felicidade agora esta sobre nosso Controle, em nossas mãos.
Quando ¨Desligo-me Emocionalmente¨ do meu Adicto coloco seu problema como sendo seu, somente seu e permito analisar as minhas atitudes de forma mais clara, racional, pura. Desligando-me do meu emocional passo a colocar na minha vida um novo lema, ¨Pensar¨.
Foco meu Adicto agora com um olhar que me permite ver tudo que esta a minha volta, com uma nova concepção, um novo horizonte. Vendo-o agora como portador de uma doença e não mais como um pobre coitado ou um ser cheio de falhas de caráter, desonesto, imoral, amoral.
Com o Desligamento Emocional sentimentos negativos como Raiva, Frustrações, Auto-piedade, Controle desaparecem e fica em mim a certeza de que não sou mais responsável pelo adicto, que não tenho culpa por sua doença e não tenho o poder de curar sua insanidade e que preciso apenas agora procurar a minha ¨Sanidade¨ e a ¨Recuperação¨ da minha doença. Para que quando meu Adicto solicite a minha ajuda, eu possa saber julgar se minhas atitudes não são facilitadoras ou uma forma de manipulação minha ou dele.
Começo a dar a mim oportunidades para minha recuperação e a permitir que o outro tenha chance para sua recuperação, pois, agora eu deixo que o outro dirija a sua própria vida, que seja responsável por ela e que saiba que arcará com as conseqüências das suas atitudes.
Ao me ¨Desligar Emocionalmente¨ passo a ter ¨Serenidade, Coragem e Sabedoria¨.
Desligar-me é conseguir o verdadeiro Amor por si e pelo ou outro.
Desligar-me é encontrar a liberdade.
Desligar-me é exercer o Amor verdadeiro, o ¨Amor incondicional¨.
Amar é não impor condições para este Amor. Amar é opção, é escolha sem me preocupar se é preto ou branco, se é feio ou bonito, se gostam ou não gostam, se cheira ou se fuma.
Desligar-me é dar aos outros a liberdade de se responsabilizarem por si.
O familiar do ¨Adicto¨ tem uma grande dificuldade em compreender este conceito, pois, ainda tem o conceito de que tem o ¨Poder¨ pelo outro.
¨Desligar-me Emocionalmente¨ do Adicto não é deixar de se importar com ele, não é deixá-lo de amá-lo, nem é ser cruel, mas sim, exercer o verdadeiro Amor.
É verdadeiramente ¨Ajudar¨, pois agora, exercito o ¨Viva e Deixe Viver¨, tendo o outro a ¨Liberdade¨ de escolha e de assumir seu lugar neste mundo, aprendendo com os erros e fortalecendo-se com os acertos.
Desligar-me do Adicto é vê-lo não como ¨Príncipe¨ e nem como um ¨Sapo¨ de um conto de fadas, mas sim, ver o outro como um ser humano cheio de qualidades e contradições assim como eu também sou.
É vermos nele, no outro o nosso próprio reflexo de simples seres humanos que somos.
É retirar o foco do Adicto e colocarmos em nós, é ver as nossas ¨drogadições¨, nossas deficiências, nossos complexos, erros e compreender que acima de tudo temos o direito e a escolha de sermos feliz.
É ver o meu ¨EU¨ para que eu não julgue mais o ¨EU¨ do outro.
Desligar-me é me desprender, é desatar nós, é soltar minhas asas para que junto com outro; se ele assim o quiser; aprendamos a voar; juntos ou não; mas aprendamos.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

DIAS DE LUTA, DIAS DE GLÓRIA...DESABAFO

Olá meus queridos!!!
Bem meus amigos comigo as coisas estão oscilando...
Hoje particularmente não estou em um bom dia, meu marido esta no uso.
Não digo mais que ele recaiu ou está recaído, pois vejo a recaída da seguinte forma: Quando a pessoa esta limpa por um certo tempo( meses ou anos) em ''recuperação'' e recai.
Isto pra mim é uma recaída, não é o caso de meu marido que infelizmente depois de tantos anos nem aceitou o primeiro passo, ou seja ele vive na ativa.
Apesar de não fazer o uso da droga de sua preferência com frequência (crack), ele tem consegue ficar alguns meses sem o uso, mas continua fazendo o uso de outra droga que no caso dele é trocar 6 por meia duzia, ''o álcool''.
Embora muitas pessoas não considerem o Álcool uma droga, e algumas até consigam beber socialmente, o Álcool é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde como uma das drogas que mais matam e viciam no mundo, sem contar inúmeros lares que são desfeitos por causa deste vício, inúmeras mortes no transito causadas pela irresponsabilidade de motoristas bêbados.
Apesar de não ser adicta e de nunca ter usado drogas, sempre convivi desde minha infância ao lado de pessoas alcoolistas, meu pai e meu tio eram alcoólatras.
Lembro-me de todo sofrimento que passei em minha infância, de todas surras que levei sem motivo algum, das humilhações que meu pai me fazia passar em público, das noites que ainda criança dormi na rua por causa de suas bebedeiras.
Não me lembro de ter tido uma infância feliz, via meus amiguinhos brincarem nas ruas, todos em paz com seus irmãozinhos e suas famílias ''normais'' e me perguntava: Porque minha vida tem que ser assim??
Lembro-me do desespero de minha vózinha que jogava fora todas garrafas de bebida que meu pai comprava, e substituía por água. Como se ele não fosse perceber...Lembro-me de quantas surras levei por causa disto.
Quando minha avó morreu, lembro-me do pavor que tive de pensar em morar sozinha com meu pai, pensava: se com minha avó, minha vida já era um inferno, imagine eu sozinha com ele.
Sai de casa com 17 anos e meses depois conheci meu esposo, nos primeiros anos tudo foi perfeito, até que ele se tornou dependente do crack e do álcool...




Hoje estou aqui com 36 anos , temos uma filha de 17, várias internações, vários tratamentos, períodos de sobriedade, períodos de ativa, momentos de paz, momentos de guerra, momentos de amor, momentos de mágoa, momentos de alegria, momentos de tristeza...

Realmente conviver com um adicto é como andar em um carrinho de montanha russa, hora estamos lá em cima de repente despencamos...
A adicção e a codependencia são doenças muito parecidas e ambas perigosas se não forem tratadas, tanto o adicto como o familiar codependente tem que estar em tratamento para se ter um lar harmônico.
Não tenha a ilusão de que se o adicto estiver limpo a vida será um mar de rosas, as vezes mesmo em recuperação, alguns deles não perdem os comportamentos adictivos, e continuam com suas manias e querendo ser o centro das atenções por muitos anos.
No meu caso, pra mim o mais difícil de suportar nestes 15 anos de adicção, não são as recaídas por incrível que pareça...
Difícil é suportar conviver com as crises de ''abstinência'',o egoísmo sem limites, a irresponsabilidade, ímpetos de fúria, ataques de grosserias, humilhações, e tudo sem motivo, ou por motivos insignificantes.
As vezes ele me sobrecarrega tanto com este comportamento, que (peço perdão a Deus) já cheguei a desejar que ele tivesse uma recaída e ficasse alguns dias pela rua, só para nós termos um pouco de paz. ( a que ponto a doença nos transtorna)
A negação por parte dele, é a pior parte da doença, ele admite que é dependente químico (quando lhe é conveniente), mas não acha que é alcoólatra e acredita que de vez em quando pode tomar aquela inocente cervejinha...
Ele já bateu 100000000000000000000000 de vezes nesta tecla e ainda não entendeu, ou ''finge não entender'', que ele é um dependente cruzado e que se ele tomar o primeiro gole, beberá compulsivamente, e certamente mais cedo ou mais tarde recairá. Com isso, ele já perdeu amigos, se humilhou, foi humilhado, perdeu o respeito das pessoas, a confiança, sofreu preconceitos, perdeu a admiração e o carinho da esposa, perdeu o respeito da filha, perdeu empregos, o amor próprio, sem contar nos prejuízos materiais, mas a cegueira que a doença causa o faz continuar a repetir os mesmos comportamentos insanos.
Com suas recaídas a família inteira sofre, pois a adicção não prejudica somente o adicto, mas todos que estão em sua volta.
Eu já nem falo mais sobre este assunto com ele, mas também não sou conivente com que ele faça o uso da bebida, ele sabe que me oponho e por isso estamos separados alguns meses, moramos juntos, mas estamos separados.
Decidi que não posso tolerar mais isso e tomei esta decisão, eu o respeito como meu marido, mas tomei a decisão que enquanto ele realmente não entrar em recuperação e se manter limpo, não quero esta vida para mim.
Como todo bom adicto, manipulador e cheio das chantagens, ele me culpa pelas recaídas...
Diz que não tem esposa, que eu o desprezo, que não o amo mais e por isso ele bebe e acaba recaindo.(pura manipulação)
A pressão psicológica é uma das piores torturas sob a qual se pode viver. Me sinto aprisionada a esta relação e nem eu sei o motivo.
Amo meu marido, mas não estou amando a pessoa que ele está sendo, Não se sente desejo e admiração por uma pessoa que não se ama, não se valoriza. A chave da minha prisão está comigo, depende somente de mim, para me soltar, ficar livre, enquanto eu me permitir viver assim ninguém poderá fazer nada por mim. Não sei explicar o porque, mas sinto ainda que devo continuar aqui por mais um tempo.
A parte mais difícil de tudo isso é a intolerância de minha filha com o pai, sei que ele a ama assim como ela o ama, mas o relacionamento dos dois é muito conturbado, e em nenhum momento posso tirar a razão de minha filha, que cresceu neste ambiente hostil presenciando o pai na ativa por vários períodos de sua infância e adolescência, sei que estas sequelas serão irreversíveis, até hoje minha filha é depressiva, fui uma mãe omissa por causa da minha codependencia, e por este motivo agradeço a Deus pela decisão de não ter tido mais filhos, para que não crescessem nestas condições traumáticas.
Graças a Deus posso dizer que apesar de tudo estou bem, na medida do possível, estou procurando pensar em mim, em minha filha...Ele? entreguei nas mãos do Poder Superior. Não choro, não me descabelo, não vou atrás, não ponho minha vida em risco como antes indo a biqueiras, não perco noites de sono, não deixo de me alimentar, não pago dívidas de drogas, enfim, não facilito a vida dele em nada quando ele está no uso.
Sei bem que não Causei a adicção dele, não posso Cura-lo e não tenho Culpa pela doença...
Estou engatinhando em meu processo de recuperação e aprendo muito com todos vocês queridos amigos do blog e do face.
Em vocês, encontrei uma nova família, amigos do coração. Existe algo que no auge de minha codependencia e da adicção de meu marido acabei perdendo ou deixando de lado...''Minha família''. Acabei me isolando, por causa da codependencia, por vergonha da situação, por medo do preconceito (que enfrentamos quase sempre), por querer ser auto suficiente e resolver todos os problemas sozinhas (como se eu pudesse), por não querer expor meus problemas, por não querer pedir ajuda...enfim, me afastei daqueles que amo, mas vou carregar para sempre em meu coração.
Talvez minha família nunca entenda meus motivos, a razão deste afastamento, mas queria que soubessem que amo cada um deles e estão sempre em minhas orações, principalmente uma pessoa muito querida a qual eu amo muito que fez parte de minha infância, uma tia que considero como mãe.
Minha aparente frieza e isolamento, não é falta de amor,(me transformei em uma pessoa muito calada e introvertida) Eu amo todos vocês de todo coração.
A convivência com um adicto,toda esta problemática que a dependência química nos trás, principalmente quando eles não estão no propósito de recuperação, deixa nós familiares com uma vida desregrada e conturbada, muita vezes nos falta a paz e serenidade, por mais que lutemos para busca-la.
Sinto falta de coisas em minha vida que ficaram perdidas no passado e não sei mais se conseguirei recuperar...
Quanto a mim, continuo buscando com todas minhas forças minha recuperação, para não voltar ao fundo do poço onde estava a algum tempo atrás. Conto com a ajuda de vocês para isso.
Sei que dia após dia tenho progredido gotinha por gotinha em minha recuperação, sei que um dia posso ter minha vida de volta e acredito que dias melhores virão.
Cuidem-se queridas(os), pensem em vocês em primeiro lugar, para isso tem os grupos de ajuda, sozinhos não conseguimos...AMO TODOS VOCÊS INCONDICIONALMENTE.
Obrigado por me ouvirem e pela vida de cada um de vocês!!!